quinta-feira, 7 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (232)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

232 - O Mostro de Santa Tereza (1978), de William Cobbett **1/2

Luiz Armando Queiróz é chefe de repartição, é baiano que mora no Rio de Janeiro, mas queria mesmo é ter nascido no império. Daí se se auto-denomina barão, com direito à cartola e tudo, e recebe a companheira de trabalho Isolda Cresta em seu apartamento em Santa Tereza. Ele a chama de baronesa e juntos se divertem em noites de sexo em meio ao mobiliário antigo e literatura erótica. Tudo está as mil maravilhas, até que chega Maria Rita, mãe dele, que com gênio terrível e moral severa, vai infernizar sua vida. O Montro de Santa Tereza é baseado em Duas Vezes Perdida, de Josué Montello, com roteiro de Cobbett e e Antônio Neves. O grande destaque do filme é a presença de Luiz Armando Queiróz, morto precocemente aos 54 anos. Queiróz encarna Jerônimo, o típico personagem público atolado em pastas amareladas de processos, que busca uma vida menos ordinária em um Rio de Janeiro onde crentes condenan a falta de valores em praça pública, poetas recitam versos que ninguém quer ouvir, e anônimos se acotovelam no bondinho com destino ao centro. Daí, é como se Santa Tereza fosse um oásis que representa tempos antigos - e o bonde é signo disso - enquanto logo ali embaixo na Lapa os odores sobem e empestiam o ar. O ator empresta a empáfia necessária para o personagem circular durante o dia e a gaiatice ligeira para as noites em que reina em sua alcova. Isolda Cresta faz a solteirona com propriedade - ela e Queíróz protagonizam belíssima cena debaixo de árvore, que começa campestre e termina angustiada, a la James Ivory; já Maria Rita, ainda que injete energia na mãe déspota, está um tanto exagerada na composição - o melhor está em algumas ações que ela instaura na casa, como a troca dos móveis de antiquário por mesa de fórmica e flores de plástico, e a volta do penico para debaixo da cama. No elenco estão também Fernando Reski, Wilson Grey e uma Zezé Macedo com direito à cena de provocação sexual, quando fica de sultiã e calcinha e desperta o desejo do vizinho barão que a espreita pela janela. O Monstro de Santa Tereza conta com a presença na equipe de produção de Adélia Sampaio, que dirigiria Amor Maldito (1984), filme de temática homosssexual feminina, e de Eliana Cobbet - essa última irmã dela e esposa do cineasta.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

terça-feira, 5 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (231)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

231 - Neurose Sexual (1985), de Tony Vieira **

O mineiro Tony Vieira foi sinônimo de sucesso de bilheteria durante muitos anos com seu cinema popular, dirigindo filmes policiais, faroeste, aventuras e dramas. E foi GRANDE aí. E como outros cineastas da Boca do Lixo, também aderiu ao sexo explícito na década de 1980. No anos 70 assinou muitos filmes como Tony Vieira, já nos meados dos 80 até o fim da década assinou como Mauri de Queiróz, seu nome verdadeiro. Esse Neurose Sexual é exemplar dessa dualidade, pois assina o argumento e o roteiro como Tony Vieira, mas a direção como Mauri de Queiróz - e ainda é filme de passagem, pois tem forte teor sexual, mas nunca explícito. Na trama, Marília Naue é uma empresária que deixa a firma quase parada e seus diretores de cabelos em pé, pois vive cada vez mais mergulhada em seu mundo interior. E nele, é tomada por delírios sexuais cada vez mais fortes e presentes, e é acompanhada de perto pela amiga Jonia Freund, e pela psicóloga Dalma Ribas. Quando lê que um tarado e assassino foi pego e condenado, fica obcecada por sua figura - que corre para lá e para cá - e acaba selando seu destino junto ao dele. Marilia Naue é presença interessante, com seu tipo loura gostosona e cheia de uma certa classe - e essa muitas vezes despenca, pois é inacreditável o figurino, já que ora está de casacos de couro ou de lã, ora de shortinhos, e quase sempre de faixa na testa - e do lado de cá a gente pensa: mas que clima é esse?. Só que nem sempre consegue segurar a onda quando o papel lhe exige um trabalho mais forte de atriz - há uma cena emblemática disso quando vê um casal roçando no mato, delira participando do ato e depois se debate em tom melodramático excessivo e clama "Por que meu Deus! Por que?". E na verdade, o roteiro de Vieira não ajuda muito, pois acaba sendo sequências de cartas marcadas para a personagem, que protagoniza encontros fortuitos, depois delírios sexuais envolvendo quem encontra pelo caminho, e por fim embates emocionais. Não se vê aqui também muita vontade da direção e tampouco da montagem, com muitas cenas de patos nadando em lagoas em meio ao imbróglio todo - aliás, há quase uma obsessão por água, daí há praias, cachoeiras, cascatas, lagos. Mais para frente, Tony Vieira, como Mauri de Queiróz, vai apimentar mais seus filmes, se distanciando dos grandes feitos da carreira, para desagrado de seu público primeiro e para o próprio cineasta. Mas ainda assim seu lugar já estava assegurado como um dos grandes diretores da Boca do Lixo e um dos mais populares do país.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie grandes damas da tv (82)


Neusa Borges.





Salve Salve!

sábado, 2 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (230)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

230 - Na Ponta da Faca (1977), de Miguel Faria Jr **

Focar uma história, depois abandoná-la e pular para outra - e às vezes nem voltar à anterior - é recurso usado, inclusive, por alguns diretores do cinema oriental. Mas aqui no cinema brazuca também temos exemplos disso, como nesse Na Ponta da Faca, de Miguel Faria Jr. O filme começa com uma família burguesa chefiada por Sérgio Britto e Isabel Ribeiro, que vive na cidade, mas passa o final de semana, vez ou outra, na fazenda. Vemos um pouco sobre eles, o pai que quer tirar posseiros da propriedade e o discurso de contraposição da mãe metida à intelectual de esquerda, mais o casal de filhos. E é na tal fazenda que vive Stepan Nercessian, lavrador cançado daquele fim de mundo que larga a família e vai zanzar no Rio de Janeiro. Daí a história abandona completamente a família e mira sua lente no rapaz que na cidade maravilhosa se enamora da prostituta Ana Maria Miranda, vira lutador de boxe e é assediado moralmente pelo chefão Alvaro Freire. Depois, só nos estertores é que a trama junta Stepan de novo à familia. Esse estilo de abordagem poderia resultar interessante, mas a má notícia é que esse rocambole não funciona muito bem não. Primeiro que a gente fica meio sem saber qual a função daquela narrativa familiar - e nem o tema-tabu do núcleo, ainda que corajoso para a época de ditadura militar, é construído com vigor. Já Stepan Nercessiam, por mais excepcional ator que seja, de cara não convence muito como o filho daquela família de lavradores lá no início. Ainda que o ator seja goiano, a estética malandra carioca impregnada na persona do intérprete nos filmes anteriores ainda estava muito fresca para uma composição de camponês mais crível - mas é forçoso dizer que fora esse descompasso inicial, Stepan é sempre ótimo. No elenco, quem se sai melhor é Ana Maria Miranda e Alvaro Frerie; já nem o gigantismo habitual de Isabel Ribeiro lhe dá a mínima chance com aquele rascunho de personagem. Fora isso tudo, há ainda uns senões que desorientam essa produção, com foco até pouco usual, já que nem sempre o boxe veio para o centro da cena em nossos filmes de ficção. E um deles é, com certeza, o mosaico de músicas que, além de não se adequarem organicamente às cenas ainda se misturam numa variedade a deixar tonto qualquer um. As primeiras sequências ao som de Vozes da Seca com o Quinteto Violado já instala o estranhamento inicial: "mas que diabos é isso?", já se pensa cá com nossos botões. Mas ainda tem Ilegal, Imoral ou Engorda com Roberto Carlos; As Ayabás com Maria Bethânia; No Reino da Mãe de Ouro com a Mangueira; e Escapulário, de Caetano Veloso sobre poema de Oswald de Andrade, adaptada por Miguel Faria Jr e cantada por Jards Macalé e Ana Maria Miranda. Outro senão é a direção um tanto sem tesão, a não ser nas aventuras do jovem boxeador. Na Ponta da Faca nem insinua o que cineasta faria pouco depois em República dos Assassinos (1979), aí sim um filmaço e um dos mais memoráveis e impactantes da década. Miguel Faria Jr tem trajetória curiosa, pois quase sempre intercala um filme assim assim entre outros memoráveis. E sob esse prisma, Na Ponta da Faca está para República dos Assassinos, assim como Para Viver Um Grande Amor (1984) está para Stelinha (199), e O Xangô de Baker Streeet (2001) para Vinícius (2005).

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

longas brasileiros em 2010 (229)


Filmes brasileiros assistidos e revistos em 2010 no cinema, no DVD e na televisão.
(em 2009 - 315 filmes)

229 - Selva Trágica (1964), de Roberto Farias *****

Como articulista político, Arnaldo Jabor é catastrófico - no pior sentido da palavra e no sentido literal da palavra. Ao contrário, como cineasta é dos melhores, com petardos e clássicos modernos como Toda Nudez Será Castigada (1972). Daí que sua volta ao set de cinema com A Suprema Felicidade (2010) foi e está sendo notícia do Oiapoque ao Chuí - e quem sabe não fica no cinema de vez e nos poupe de suas análises apocalipticas de araque... Não dá mesmo para acreditar porque cineastas talentosos abandonam o ofício, e quando se pensa nisso um nome vem imediatamente à tona: Roberto Farias. Diretor de filmes como Assalto ao Trem Pagador (1962) e Pra Frente Brasil (1982), Farias abandonou o cinema na década de 1980 e bandeou para a televisão - pelo menos o set, já que milita em outras áreas, como no Canal Brasil como um dos donos e também na presidência da Academia Brasileira de Cinema. E foi nos anos 60 que dirigiu esse imponente e cruel Selva Trágica. A trama se passa em fazenda de plantação de mate na fronteira com o Paraguai, onde os trabalhadores são tratados como escravos. Daí ou se submetem aos desmandos da companhia que explora a região ou se viram trabalhando clandestinamente naquelas terras. E é nessa condição de clandestinos que Reginaldo Faria, sua companheira Rejane Medeiros e seu amigo Joffre Soares são capturados pelo capataz Maurício do Valle e levados para a companhia, onde terão que pagar suas dívidas com muito trabalho e humilhação. Lá encontrarão ainda Aurélio Teixeira, que ficará obcecado por Rejane. Na história do cinema brasileiro são muito os filmes notáveis, e uma parte deles alçada à condição de obras-primas. Mas não é sempre que, além do filme, ficamos reféns de seus personagens, como é o caso dos que circulam nessa Selva Trágica. Como esquecer de Joffre Soares, quando corre em disparada e a gente corre junto como se assim pudéssemos ajudá-lo? Como esquecer de Maurício do Valle, um tipo de capitão do mato que em meio à bárbarie esquadrinha seus sentimentos como um personagem shakespereano? Como esquecer Aurélio Teixeira em sua dignidade ultrajada com a não consumação de seu desejo? E, sobretudo, como esquecer do Pablito de Reginaldo Faria e da Flora de Rejane Medeiros? Ele curtido e cortado no couro pela vida dura no mato, mas com o coração transbordando de amor; e ela se degladiando para fugir ao destino de gado anunciado para o abate. Pois todos eles se fazem carnes e visceras a nossa frente, obrigam-nos a não desviar os olhos de suas vidas miseráveis, e fazem morada para sempre na nossa alma, mesmo com o apagar das luzes. É filme para nos lembrar continuamente que existiram e ainda existem outros Brasis além do de nosso quintal e muito mais cruéis do que o alcance da nossa vâ filosofia. Baseado no romance homônimo de Hernani Donato e com roteiro também assinado por Roberto Farias, Selva Trágica tem fotografia gigante de José Rosa e trilha sonora de Luiz Bonfá. Prêmio Governador do Estado de São Paulo de Melhor Ator para Reginaldo Faria.

Cotações:
+ ruim
* fraco
** regular
*** bom
**** muito bom
***** ótimo

serie deusas (150)


Katharine Ross.






Nu!!!